mar 07 2019

Cortejo histórico da cultura afro-brasileira no bairro Pimentas em Guarulhos.

Published by at 6:55 under artigos,movimentos em luta

Por Agnes Karoline

Yalorisà Claudia (Na esquerda) de Oya e as crianças abrindo o cortejo.

No dia 03 de Março aconteceu um evento histórico no bairro Pimentas em Guarulhos. O grupo de capoeira E.C. E Brasil e o Afoxé Omo Oya realizaram um cortejo com o objetivo de levar para as ruas do bairro onde os dois grupos vivem e se organizam há décadas a cultura afro-brasileira. Os dois grupos acreditam que vivemos em um momento muito crítico aonde a cultura popular vem sendo desvalorizada ao mesmo tempo em que o racismo esta em ascensão. A capoeira nasceu da necessidade dos negros se defenderem das torturas e crimes que eram cometidos contra a humanidade no período da escravidão. O Afoxé nasceu da necessidade de expressar publicamente a cultura dos terreiros e das casas de candomblé que por preconceito já foram proibidos do livre direito de culto.

                Com isso, ambas as expressões culturais preservaram em suas práticas a história brasileira que é também a história do povo negro. Neste sentido, a resistência sempre foi um lema para esses grupos e a necessidade de estarem nas ruas para que a história não se perca, é não só necessário como inevitável!

                Símbolo disso foi, mesmo depois da forte chuva que, inclusive, alagou diversos pontos do bairro, os grupo se concentraram no terminal dos Pimentas e seguiram em cortejo até a conhecida popularmente como praça do Stela.  Esse trajeto foi pensado como forma de relembrar a própria história do bairro, como diz a Yalorisà Claudia dy Oya “aqui havia um quilombo que ia das lavras até quase a penha e esse quilombo foi formado da resistência dos negros que trabalhavam das minas de ouro na região hoje do Bonsucesso”. Era um quilombo muito grande que hoje muitos do bairro são descendentes, mas por conta do massacre, feito a luta de resistência o povo negro aqui no bairro que tem um déficit habitacional de 100 habitantes, formulou um grupo enorme de sem tetos.

Grupo de Capoeira E.C.E Brasil, no canto esquerdo Mestre Dinho Caruaru.

  Ao mesmo tempo em que o Mestre Dinho Caruaru relembra “Aqui quando acaba essa Rua Jurema até o final da Rua Jacutinga era tudo um rio, a gente vinha pegar peixe, brincava, nadava. Inclusive eu conheci a capoeira quando vi um homem muito grande que passava na rua com um berimbau na mão e ia treinar capoeira na beira do rio”.  O Mestre Dinho Caruaru chegou ao bairro em sua infância, vindo de Pernambuco com seus pais e avôs que eram indígenas, mas por conta de toda a discriminação não queriam se expor como povos originários dados ao forte preconceito. Tanto o Mestre Dinho Caruaru como a Yalorisà Claudia dy Oya são bibliotecas da história viva do bairro, que é muito representativa da história brasileira assim como o trabalho que cada um deles preservam, assim são patrimônio vivo da humanidade.

Dado a essa grande importância do trabalho cultural desenvolvido por cada um desses grupos, mas que infelizmente ainda não recebem o devido reconhecimento por lei por  reparação histórica, de políticas de valorização cultural e de fomentos necessários para seus trabalhos. O cortejo é um marco histórico para a luta do povo negro, da cultura popular, da Capoeira, do Afoxé e para as comunidades tradicionais de terreiro.

Para conhecer mais: aulas gratuitas do grupo Capoeira E.C.E Brasil no CEU-Pimentas/Guarulhos. Treinos as segundas, quartas e sábado. Roda às sextas-feiras 19h.
https://www.facebook.com/ecebrasil/?ref=br_rs

A sede do Afoxé fica no Endereço: Rua Peabiru, 136 – Pq. Stella – Guarulhos – SP
https://www.facebook.com/AfoxeOmoOya/?ref=br_rs

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